quinta-feira, 19 de maio de 2016

Saudade

É assim..vem de mansinho , sem quase nos apercebermos, e quando damos por isso, a lágrima solta-se, o coração fica apertadinho e ficamos pequeninos, impotentes, melancólicos e ausentes do tempo presente.
Saudade é querer agarrar e trazer de volta o que  foi e já não é....
O tempo não volta para trás, os momentos não se repetem e as pessoas já não "estão" ali. São  visão nublada  no nosso pensamento, mas ocupam o mesmo lugar de sempre no  nosso coração.
 A saudade faz doer. mas também faz correr a vida, equilibrar o momento, ajudar a caminhar no presente para  fortalecer o futuro.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

TIC TAC TIC

Estou aqui sentada, olho para ele e ouço o seu som inconfundível, aquele tic tac constante, e umas grandes badaladas a cada 15 minutos, anunciando que passaram  mais uns minutos da minha vida, mas ao ouvi-lo, volto lá atrás no tempo e lembro como se fosse hoje o dia em que foi comprado.

Veio substituir um relógio já antigo, que tinha acompanhado a infância da minha mãe e a minha. O Relógio da avó Rosalina, que durante tantos  anos se fez ouvir com as suas  badaladas muito próprias as quais  produziam uma musica que a nossa memória guardava, e que, consciente ou inconscientemente, a produzíamos no nosso pensamento. Fez-nos companhia, orientava o nosso dia a dia, e era um dos objetos mais importantes daquela casa. Subir a uma cadeira, pegar na chave e dar a corda, eram gestos comuns e agradáveis para qualquer um lá em casa. Estar sem ouvir o tic tac é que não podia ser. Mas,  um dia, saiu das nossas vidas e ficou-nos a faltar este nosso “amigo”. Amigo, sim, porque era assim que o considerávamos. E assim, depois de algum tempo, sempre  sentido a falta do nosso antigo relógio, arranjamos uma solução... compramos outro.

Colocado no mesmo sitio e embora com um desenho mais moderno, um toque ligeiramente diferente, dava para  nos consolar mas, não era a mesma coisa. O relógio da avó Rosalina era o relógio da avó Rosalina .
Hoje aqui estou com o substituto, que me foi deixado pelos meus pais, já velhinho. Passaram muitas horas, muitos minutos , muitos segundos. Andou ai pelos cantos, esperando ser pendurado e para fazer ouvir o seu tic tac e os seus dlins dlãos….Ao ouvi-lo hoje, relembro mais uma vez as pessoas que mais admiro e que me deram o seu tempo , horas e minutos para que a minha vida valesse a pena.
Agora que já dei "corda"  às minhas recordações, voltarei dentro de algumas horas, vou ali comprar um vidro para colocar no meu relógio….

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

As férias com a Tia Isabel

Depois de um mês de Agosto escaldante o que mais nos refrescava era a ideia de que em Setembro depois da ceifa, a tia Isabel  ia para Monte Gordo para o quarto alugado na  tia Geada.
E nunca mais chegava o dia....mas finalmente a ceifa estava acabada.
O frenesim, o nervoso miudinho, provocados pela proximidade da viagem,  já se faziam notar, especialmente nos mais novinhos (eu incluída) e a romaria até à Gare das "caminetas" a pé, com as malas das roupas, coisas simples de gente simples que pouco tinha para emalar,  começava  a fazer-se. Por volta das  13 horas  já nos encontrávamos na gare  para  apanhar a "caminete" da carreira.
Dentro da  camioneta com os olhinhos a brilhar, a olhar por entre a janela e a começar a sonhar com aqueles dias que se avizinhavam.
Próxima etapa,  Val-de-Açor.
E naquele ron ron da camioneta, solavancos e cheiro a gasóleo, la íamos nós. Avistávamos a torre da igreja de Val-de-Açor  e isso significava que ali estavam os tios, os primos  e uma grande bagagem à espera de entrar na camioneta. Os sorrisos nos lábio eram notórios, o falar alto, os risos de nervosismo...Começavam os acenos e já começávamos a ver a praia mais próxima. Depois dos beijinhos e dos abraços, a marcação dos lugares  sempre perto uns dos outros, os mais pequenos esperavam em grandes conversas de crianças que já não se viam há algum tempo e que estavam desejosas deste momento, enquanto os mais velhos ficavam a colocar a grande carga para os 15 dias,  na parte de cima da camioneta. Arca com o  pão que durava os quinze dias sem ficar bolorento, as linguiças, presunto da matança, as popias caiadas , os bolos da amassadura, tudo feito pela tia Isabel. Outra arca com osas roupas, os lençois,  cobertores e colchões porque o quarto da tia Geada era só uma cama, e a senhora não tinha la colchões para esta gente toda.....era assim que começavam as melhores férias da minha infância.
Toda uma tarde entre curvas e curvinhas, paragem em todas as terrinhas e terreolas,  e lá pelas 19 horas chegávamos a Vila Reaçl de Stº António e aguardávamos a outra camioneta que chegava por volta das 20 horas para nos levar até Monte gordo.
Sem muito dinheiro, (na altura sem subsidios de férias também) mas com muito amor, tolerância e vontade começavam as nossas férias na praia na década de 60....

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O tempo voa mas a criança continua!

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“A minha Linita”, era sempre esta a forma carinhosa e embevecida com que fui tratada pelos meus pais.
A sua ternura e amor foram-se revelando ao longo do meu crescimento....
Já não me lembro dos meus primeiros anos de vida, como é natural, valem-me as memórias das boas conversas e histórias contadas pelos meus pais, avós e primas mais velhas.
Diziam que era uma bebé muito tranquila, bem-disposta, sempre  sorridente....

Sempre rodeada por muita gente, atenção era o que não me faltava e a minha vida decorria como a vida de qualquer criança que cresce em liberdade e amor.
Ao entardecer, depois de o meu pai sair do trabalho, registava-se uma das coisas que mais gostava de fazer.
O meu pai chegava, começava por lanchar e repartir o seu lanche comigo. E como eu gostava do pão com a “xixa” (linguiça). Depois, lá ia dar uma voltinha à rua comigo. Sempre muito bem “arranjadinha” levava-me pela mão, com muito orgulho e a minha mãe ficava à porta vendo-nos ir rua acima, até desaparecermos. Eram passeios curtos, mas que me agradavam grandemente até porque havia sempre o pirolito (chupas de açúcar caramelizado feitos caseiramente), ou outro docinho qualquer.
E o tempo passava sem pressas e eu ia aprendendo, crescendo, brincando e como era bom brincar no quintal da minha casa.
Brinquedos não havia, nem dinheiro para os comprar, mas a imaginação não faltava. A terra para fazer de açúcar ou farinha, as pedras que faziam de bolos, de carne, pesos ou até mesmo dinheiro. As tábuas que davam uma boa balança. Os paus, esses serviam de colheres, canetas ou até onde a imaginação levasse. As flores davam bonitos brincos ou até mesmo as suas pétalas serviam para imitar as unhas pintadas, enfim… tudo servia para armar a minha loja e brincar toda uma tarde no mundo da imaginação.
E as malandrices, que foram segredos durante tantos anos...mas que hoje trazem aquele sorriso maroto aos nossos lábios. E aquele  triciclo (do primo Zé Rosa) que chiava por todos os lados, mas que era um prazer imenso pedalar, sentir  o vento bater na cara e voar no mundo da imaginação...que privilégio foi  ser criança nos anos 60. Que alegria poder ir brincar para a rua sem nos preocuparmos com os carros ou os "predadores", ser livre, viver a vida com calma, apreciar cada momento....
Os poucos filmes que via na televisão reportava-os para o meu espaço de brincadeira, onde eu, com as crianças da minha rua, livremente nos tornávamos os actores principais de uma longa metragem que ainda hoje continua viva na minha memória.
Que Criança feliz  eu fui e que nem com a passagem do tempo a matei. Faço-a renascer a cada dia,  tirando partido das coisas lindas que Deus põe à minha disposição, brincando, rindo do trivial, de mim e dos outros... E é esta criança que há dentro de nós, que tem que sair, sair e  alegrar este  mundo que ficou tão adulto que até dá dó....
É tão bom ser criança!


Obrigada pais por me terem concedido uma infância tão feliz!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012




 




Que história a minha! …Ão, Ão. 
Andava um dia a vaguear pelas ruas, sem eira nem beira. A fome era tanta, as noites eram passadas debaixo de uns caixotes perto de um supermercado. Eu bem que corria para as pessoas com o meu rabinho a abanar na esperança que alguém me pegasse ao colo e me levasse. Realmente faziam-me muitas festinhas, davam-me um petisquinho e depois…iam-se embora, e ali me deixavam.
Pouco me lembro do meu passado, só sei que me deixaram ali, foram embora e nunca mais me vieram buscar.
Todos os dias, ao entardecer, sem que o segurança visse, entrava no centro comercial do supermercado, e ia até uma loja onde havia uma senhora de quem gostava muito. Quando ela dava por conta, estava perto dos pés dela. Ela bem me mandava embora, mas eu, voltava sempre. Quando ela ia para casa punha-me junto do seu carro, olhava-a com um ar dócil, sempre na esperança de que um dia me levasse.
Mas isso nunca mais acontecia…Só que um dia a Linita (é este o nome da senhora) não resistiu ao meu olhar e deixou-me entrar no carro.
Ão ão…Entrei logo. Sentei-me no banco da frente, coloquei a cabeça entre as pernas e olhava-a agradecido. Fui muito quietinho. Não me lembro de alguma vez ter entrado num carro. Era agradável.
A partir desse dia a minha vida nunca mais seria a mesma.
Ao chegar a casa deparei com tantas escadas. Ufa…Quando cheguei lá acima nem sentia as minhas pernas e estava sem fôlego. Aquele cheiro, a casa, as pessoas, tudo era novo, mas eu adorei. Senti-me logo bem. Parecia que tudo aquilo era meu. Entrei num quarto, estava o Pedro, no outro o Paulo, na sala estava o Batista, e mais tarde chegou o André. Se eu gostei daquela família.
Todos me queriam. Eu que sempre fui muito beijoqueiro, fartava-me de deitar a minha linguinha de fora. A minha dona ralhava-me, mas que havia de fazer…eu gostava tanto, tanto, de fazer aquilo…ainda hoje passados 3 anos, não perdi esse hábito…coisas de cão!
Ouvia sempre um nome, cada vez que se dirigiam a mim. Buck. Comecei a perceber que deveria ser a mim que chamavam. Eu antes não tinha aquele nome, mas também já esqueci qual era o nome, o que interessa é que gostei deste.
Só não gostei muito foi quando me levaram ao veterinário. Aquele homem meteu-me medo. Com aquela bata branca, a abrir-me a boca, a dizer coisas que eu não entendia muito bem. Pensei que me fossem deixar ali. Vá lá que a Linita não me deixou nem por um bocadinho. Depois levei uma injecção e doeu-me. Eu que até não sou muito de ganir, nem ladrar, soltei um ganido ….
Mas isso agora também não interessa nada. O que interessava mesmo é que agora tinha uma família, uma casa que era quase toda minha, comidinha saborosa. Que rica vida!
Na hora de ir á rua fazer as necessidades todos queriam ir comigo. Em casa andava á solta, mas na rua os meus donos levavam-me com uma trela.
Com o passar do tempo já ninguém me queria levar. -Leva tu – dizia o Pedro. O Paulo respondia logo que não…o André tinha que ir trabalhar. Bem havia sempre uma desculpa e eu ali aflito a ver se não fazia xixi. Olhava para um, olhava para outro, mas a minha Linita ou o Batista (o meu dono) lá me salvavam daquela situação. Se eles soubessem como eu fica contente ao vê-los pegar na trela. Assim que chegava lá abaixo á rua, ufa… era um alívio!
A vida decorria assim, com estas coisas do dia-a-dia. Uma vez por outra lá me chateava com os outros cães da rua. Alguns eram muito antipáticos….é preciso ter paciência para certos cães…se é. Mas o que eu não suportava mesmo, e não suporto ainda hoje, são os gatos. Começa a subir-me uma coisa pelas patas acima, uns calores, uma vontade de me jogar a eles….tirem-mos da frente que eu não respondo por mim. Ainda há dias andava um aqui na minha casota. Atrevido!
Escusado será dizer que tivemos que nos chatear. Ele arranhou-me, mas também lhe dei uma coça.
Passado algum tempo de viver naquela casa em Lisboa,  os meus donos trouxeram-me para uma casinha no Alentejo. Aqui passava alguns dias com o Batista e por aqui fomos ficando. Um dia a Linita e o Paulo juntaram-se a nós e viemos viver todos para Évora.
Como eu gosto de viver aqui. Não tenho que subir nem descer escadas para ir fazer as minhas necessidades. Os meus donos deixam-me andar à minha vontade. Aqui na zona onde moro, já todos me conhecem….A sério! Já tenho muitos amigos.
Um dia fingi que estava a dormir e ouvi os meus donos dizerem:
 - O nosso Buck é um cãozinho muito meigo e bem comportado na rua com as pessoas. Fiquei tão vaidoso.
Nunca mais me puseram a trela. Que sorte a minha!
Os meus donos compraram-me uma casota muito bonita. Parece uma casinha alentejana, com uma barrinha amarela como a casa deles, só que eu prefiro mesmo, é a casa deles. É mais quentinha no Inverno, mais fresquinha no Verão, tenho a minha almofadinha e vejo televisão.
De vez em quando o Paulo o meu dono mais pequeno, que acompanho muitas vezes até à escola, leva-me sem a Linita saber para o quarto dele. Só de manhã é que ela descobre…mas também, não se chateia muito.
Agora a minha vida é ir com o Batista ao café todos os dias. É lá na esplanada do café que tenho feito a maior parte dos meus amigos. Eles oferecem-me sempre um pouquinho do que comem, e eu que sou muito guloso, aproveito sempre. Quando eles não me dão, chamo-os à atenção com uns barulhos especiais que faço.
Durante o dia brinco com outros cães amigos que também fiz por aqui. Tenho um grande quintal, onde não permito a entrada de gatos. Mas está um sempre lá em cima na varanda da vizinha. Espero nunca o encontrar focinho a focinho senão, não sei o que irá acontecer. Olhamos muito um para o outro, ainda bem que existe a distância de uma varanda.
Fico sempre à espreita ao portão para ver quando a Linita vem do curso. Vou atrás do carro até ela estacionar. Ela diz que eu pareço uma flecha a correr. Fico tão contente com a sua chegada. Depois ela mete-se comigo e chama-me Buckezito. Ai se eu gosto! O meu rabo abana tanto, tanto. Corro para a frente dela, dou saltos, volto atrás…enfim fico felicíssimo.
E quando vêm cá os meus donos de Lisboa? Que contente que eu fico. O Pedro faz-me muitas festinhas, gosta de me por ao colo. O André também, mas o Pedro gosta mais. Deve ser porque tivemos mais tempo juntos.
Eles brincam muito comigo. Ainda me lembro, quando um dia lá em Lisboa me puseram uma gravata. Riam que se fartavam. Logo, logo, levei a mal, parecia que estavam a gozar comigo, mas depois mostraram-me ao espelho e até eu se pudesse me ria, quer dizer, ri-me assim à
cão. Doutra vez puseram-me óculos, dessa vez tive direito a fotografia…ai esta família às vezes é tão engraçada. Eu também estou sempre disposto para a brincadeira. Oh! É uma alegria canina.
Enfim! Gosto muito desta família. Vou querer estar aqui até ao fim dos meus dias. Que bela vida de cão a minha.
Sou feliz aqui!

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