quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012




 




Que história a minha! …Ão, Ão. 
Andava um dia a vaguear pelas ruas, sem eira nem beira. A fome era tanta, as noites eram passadas debaixo de uns caixotes perto de um supermercado. Eu bem que corria para as pessoas com o meu rabinho a abanar na esperança que alguém me pegasse ao colo e me levasse. Realmente faziam-me muitas festinhas, davam-me um petisquinho e depois…iam-se embora, e ali me deixavam.
Pouco me lembro do meu passado, só sei que me deixaram ali, foram embora e nunca mais me vieram buscar.
Todos os dias, ao entardecer, sem que o segurança visse, entrava no centro comercial do supermercado, e ia até uma loja onde havia uma senhora de quem gostava muito. Quando ela dava por conta, estava perto dos pés dela. Ela bem me mandava embora, mas eu, voltava sempre. Quando ela ia para casa punha-me junto do seu carro, olhava-a com um ar dócil, sempre na esperança de que um dia me levasse.
Mas isso nunca mais acontecia…Só que um dia a Linita (é este o nome da senhora) não resistiu ao meu olhar e deixou-me entrar no carro.
Ão ão…Entrei logo. Sentei-me no banco da frente, coloquei a cabeça entre as pernas e olhava-a agradecido. Fui muito quietinho. Não me lembro de alguma vez ter entrado num carro. Era agradável.
A partir desse dia a minha vida nunca mais seria a mesma.
Ao chegar a casa deparei com tantas escadas. Ufa…Quando cheguei lá acima nem sentia as minhas pernas e estava sem fôlego. Aquele cheiro, a casa, as pessoas, tudo era novo, mas eu adorei. Senti-me logo bem. Parecia que tudo aquilo era meu. Entrei num quarto, estava o Pedro, no outro o Paulo, na sala estava o Batista, e mais tarde chegou o André. Se eu gostei daquela família.
Todos me queriam. Eu que sempre fui muito beijoqueiro, fartava-me de deitar a minha linguinha de fora. A minha dona ralhava-me, mas que havia de fazer…eu gostava tanto, tanto, de fazer aquilo…ainda hoje passados 3 anos, não perdi esse hábito…coisas de cão!
Ouvia sempre um nome, cada vez que se dirigiam a mim. Buck. Comecei a perceber que deveria ser a mim que chamavam. Eu antes não tinha aquele nome, mas também já esqueci qual era o nome, o que interessa é que gostei deste.
Só não gostei muito foi quando me levaram ao veterinário. Aquele homem meteu-me medo. Com aquela bata branca, a abrir-me a boca, a dizer coisas que eu não entendia muito bem. Pensei que me fossem deixar ali. Vá lá que a Linita não me deixou nem por um bocadinho. Depois levei uma injecção e doeu-me. Eu que até não sou muito de ganir, nem ladrar, soltei um ganido ….
Mas isso agora também não interessa nada. O que interessava mesmo é que agora tinha uma família, uma casa que era quase toda minha, comidinha saborosa. Que rica vida!
Na hora de ir á rua fazer as necessidades todos queriam ir comigo. Em casa andava á solta, mas na rua os meus donos levavam-me com uma trela.
Com o passar do tempo já ninguém me queria levar. -Leva tu – dizia o Pedro. O Paulo respondia logo que não…o André tinha que ir trabalhar. Bem havia sempre uma desculpa e eu ali aflito a ver se não fazia xixi. Olhava para um, olhava para outro, mas a minha Linita ou o Batista (o meu dono) lá me salvavam daquela situação. Se eles soubessem como eu fica contente ao vê-los pegar na trela. Assim que chegava lá abaixo á rua, ufa… era um alívio!
A vida decorria assim, com estas coisas do dia-a-dia. Uma vez por outra lá me chateava com os outros cães da rua. Alguns eram muito antipáticos….é preciso ter paciência para certos cães…se é. Mas o que eu não suportava mesmo, e não suporto ainda hoje, são os gatos. Começa a subir-me uma coisa pelas patas acima, uns calores, uma vontade de me jogar a eles….tirem-mos da frente que eu não respondo por mim. Ainda há dias andava um aqui na minha casota. Atrevido!
Escusado será dizer que tivemos que nos chatear. Ele arranhou-me, mas também lhe dei uma coça.
Passado algum tempo de viver naquela casa em Lisboa,  os meus donos trouxeram-me para uma casinha no Alentejo. Aqui passava alguns dias com o Batista e por aqui fomos ficando. Um dia a Linita e o Paulo juntaram-se a nós e viemos viver todos para Évora.
Como eu gosto de viver aqui. Não tenho que subir nem descer escadas para ir fazer as minhas necessidades. Os meus donos deixam-me andar à minha vontade. Aqui na zona onde moro, já todos me conhecem….A sério! Já tenho muitos amigos.
Um dia fingi que estava a dormir e ouvi os meus donos dizerem:
 - O nosso Buck é um cãozinho muito meigo e bem comportado na rua com as pessoas. Fiquei tão vaidoso.
Nunca mais me puseram a trela. Que sorte a minha!
Os meus donos compraram-me uma casota muito bonita. Parece uma casinha alentejana, com uma barrinha amarela como a casa deles, só que eu prefiro mesmo, é a casa deles. É mais quentinha no Inverno, mais fresquinha no Verão, tenho a minha almofadinha e vejo televisão.
De vez em quando o Paulo o meu dono mais pequeno, que acompanho muitas vezes até à escola, leva-me sem a Linita saber para o quarto dele. Só de manhã é que ela descobre…mas também, não se chateia muito.
Agora a minha vida é ir com o Batista ao café todos os dias. É lá na esplanada do café que tenho feito a maior parte dos meus amigos. Eles oferecem-me sempre um pouquinho do que comem, e eu que sou muito guloso, aproveito sempre. Quando eles não me dão, chamo-os à atenção com uns barulhos especiais que faço.
Durante o dia brinco com outros cães amigos que também fiz por aqui. Tenho um grande quintal, onde não permito a entrada de gatos. Mas está um sempre lá em cima na varanda da vizinha. Espero nunca o encontrar focinho a focinho senão, não sei o que irá acontecer. Olhamos muito um para o outro, ainda bem que existe a distância de uma varanda.
Fico sempre à espreita ao portão para ver quando a Linita vem do curso. Vou atrás do carro até ela estacionar. Ela diz que eu pareço uma flecha a correr. Fico tão contente com a sua chegada. Depois ela mete-se comigo e chama-me Buckezito. Ai se eu gosto! O meu rabo abana tanto, tanto. Corro para a frente dela, dou saltos, volto atrás…enfim fico felicíssimo.
E quando vêm cá os meus donos de Lisboa? Que contente que eu fico. O Pedro faz-me muitas festinhas, gosta de me por ao colo. O André também, mas o Pedro gosta mais. Deve ser porque tivemos mais tempo juntos.
Eles brincam muito comigo. Ainda me lembro, quando um dia lá em Lisboa me puseram uma gravata. Riam que se fartavam. Logo, logo, levei a mal, parecia que estavam a gozar comigo, mas depois mostraram-me ao espelho e até eu se pudesse me ria, quer dizer, ri-me assim à
cão. Doutra vez puseram-me óculos, dessa vez tive direito a fotografia…ai esta família às vezes é tão engraçada. Eu também estou sempre disposto para a brincadeira. Oh! É uma alegria canina.
Enfim! Gosto muito desta família. Vou querer estar aqui até ao fim dos meus dias. Que bela vida de cão a minha.
Sou feliz aqui!

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